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Sentado em uma cadeira na porta de entrada da sala de recursos da Escola Municipal de Pato Branco Rocha Pombo, é que o professor Rafael Celestrin, de 31 anos, recepcionava os alunos que chegavam às 18h de terça-feira (3). Mas ao invés de crianças, estes eram adultos: professores da Rede Municipal de Ensino que atingiam, naquele dia, a metade das 40 horas do curso de Introdução ao Braille, que os capacitará para garantir a plena inclusão de estudantes cegos ou com baixa visão da rede.

O curso, pensado e fornecido pela Administração Municipal de Pato Branco, por meio da Secretaria de Educação e Cultura e uma parceria com a Acesso Inclusão, faz parte de um projeto pela inclusão dos estudantes, que irá certificar os professores cursistas. Além dele, no primeiro semestre, foi oferecido oficina de Libras, a fim de que os educadores que atendem estudantes nestas condições possam pensar novas formas pedagógicas de preparar e abordar os conteúdos.

Rafael é o único professor cego da rede. Ele perdeu a visão entre a infância e a adolescência, devido a um problema hereditário. Aos 9 anos, foi a visão do olho esquerdo. Aos 13, do olho direito.

Na época, ele teve o acompanhamento adequado e, hoje, sente retribuir isso ao capacitar os professores da Rede Municipal.

“Nós precisamos de mais professores capacitados nesta área, pois as crianças com deficiência não vão deixar de existir. Então, através deste pensamento, temos que ter o maior número de professores capacitados”, apontou Rafael, acrescentando que  a inclusão destes estudantes a partir de professores capacitados é capaz de romper barreiras de preconceitos e diminuir as dificuldades que podem surgir na vida da criança com deficiência visual.


Capacitação

O curso de 40 horas foi iniciado em abril, com aulas de uma hora semanal.  Por meio dele, os professores, 10 no total, aprendem o alfabeto em braile, a ler e escrever na reglete e máquina braile, além de conhecer toda a codificação do alfabeto, numerais, o uso do sorobã para cálculos matemáticos e os princípios da orientação e mobilidade com uso de bengala.

Hoje a rede Municipal de Ensino possui dois alunos totalmente cegos e cinco com baixa visão. A professora Claudia Luciane Pereira, de 45 anos, trabalha com um desses alunos, que tem 6 anos, e é cego. Em 2015, ela, que é graduada em Pedagogia, fez pós-graduação em Educação Especial. A prática, no entanto, só surgiu este ano, 2021, na Escola Municipal Vila Verde.

“Eu fui a primeira que disse que sim”, brinca Claudia, sobre quando soube do curso e a possibilidade de iniciá-lo. “Primeiro por sempre ser curiosa e segundo pela oportunidade gratuita.”

Segundo ela, no início do ano teve muita dificuldade, pois como tem trabalhado com a alfabetização do aluno, ainda usa material adaptado, enviado para a família  que optou deixar o aluno em ensino remoto.

O objetivo dela, com o curso, é que o braille, que está começando a ser inserido no estudo do aluno por meio do professor Rafael, possa também ser trabalhado por ela.

“Eu ainda não sei ler, mas escrever estou quase dominando. E isso tem sido muito bom para mim porque fará com que eu tenha melhor desempenho nas atividades que farei. Se eu fosse dar uma nota de zero a dez, daria mil para esta capacitação.”


Sistema Braille

O alfabeto Braille é um sistema de leitura que se utiliza do tato e possibilita que pessoas com deficiência visual, parcial ou total tenham acesso à leitura. Ele leva este nome por ter sido inventado pelo francês Louis Braille, ainda no século 19.  

A partir de seis pontos é possível fazer 64 combinações, capazes de representar letras simples e acentuadas, pontuações, números, sinais matemáticos e até notas musicais.

As palavras são escritas da direita para esquerda com auxílio de uma prancheta, na qual é encaixada a reglete, uma régua que possui as formas com os locais dos pontos, que será furada com a punção, para criação dos caracteres.

Outra maneira é pelo uso de uma máquina braille, uma máquina de escrever capaz de marcar os pontos no papel.

A esposa de Rafael, Patrícia Celestrin, também com deficiência visual, que auxilia nas aulas de Braille, possuía ainda um exemplar da Linha Braille, um aparelho moderno que, a partir de um cartão, consegue converter textos do alfabeto formal escritos em um computador, em alfabeto braille, doado para seu filho, Arthur Celestrin.

De acordo com a secretária de Educação e Cultura, Simone Painim, o objetivo é que estes aparelhos sejam adquiridos pelo município para ampliar as possibilidades dos estudantes com deficiência visual.

No início do segundo semestre, o município recebeu o material didático do Sistema de Ensino Aprende Brasil, que possui livros em versões ampliadas para alunos com baixa visão e em braille para alunos cegos. O investimento foi de R$ 2.363.818,88 em recursos próprios, e faz parte do plano para que haja acessibilidade e que a inclusão não fique apenas em discursos.

“Para que tenhamos uma educação de qualidade é necessário que o professor esteja preparado . Diante disso, a formação continuada faz com que a inclusão seja eficiente nos diversos contextos”, destacou Simone. 

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